Problema: Jesus declarou explicitamente: “não penseis que vim revogar a Lei ou os
Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”.
Entretanto, em certas
ocasiões Jesus aprovou seus discípulos quando eles quebraram a lei dos judeus
quanto ao trabalho no sábado (Mc 2.24), assim como o próprio Jesus também o
quebrou (Jo 5.16-18; 9.13-16), e também aparentemente aboliu a lei cerimonial
ao considerar puros todos os alimentos (Mc 7.19).
Os discípulos de Jesus rejeitaram claramente muito do que
era da Lei do AT, inclusive a circuncisão (At 15; Gl 5.6; 6.15). De fato, Paulo
declarou: “Não estais debaixo da lei e
sim da graça” (Rm 6.14), e afirmou também que os Dez Mandamentos, gravados
em pedra, tinham sido removidos em Cristo (2Co 3.7,14).
Solução: na questão
quanto a lei de Moisés foi abolida por Cristo, a confusão se estabelece por se
deixar de fazer distinção entre várias coisas.

Em segundo lugar, há uma confusão quanto a certos aspectos. Pelo menos algumas das
referências (se não todas) à Lei, a respeito de elas terem sido abolidas no NT,
referem-se a cerimônias e tipos do AT. Esses aspectos cerimoniais e tipológicos da Lei de Moisés foram de forma
claramente abolidos quando Jesus, nosso cordeiro pascal (1Co 5.7), cumpriu os
tipos e predições da Lei quanto à sua primeira vinda (Hb 7-10). Nesse sentido,
Jesus claramente aboliu a os aspectos cerimoniais e tipológicos da Lei, não a
destruindo, mas cumprindo-a.
Finalmente, há uma confusão quanto a contexto, mesmo quando as dimensões morais da Lei são discutidas.
Jesus, por exemplo, não apenas cumpriu as exigências morais da Lei por nós (Rm
8.2-3), mas também o contexto nacional e teocrático no qual os princípios
morais de Deus foram expressos no AT não mais se aplica aos cristãos nos dias
de hoje. Por exemplo, não estamos debaixo dos mandamentos como Moisés os expressou
para o povo de Israel, porque, ao serem expressos ao povo nos Dez Mandamentos,
eles traziam a recompensa de que os judeus viveriam uma longa vida “na terra [da Palestina] que o Senhor, teu
Deus, te dá [aos israelitas]” (Êx 20.12). Quando o princípio moral contido
nesse mandamento do AT é estabelecido no NT, ele se expressa num contexto diferente, a saber, num
contexto que não é nacional nem teocrático, mas pessoal e universal.
Para todas as pessoas que honram seus pais, Paulo declara
que eles terão “longa vida sobre a terra”
(Ef 6.3). De igual forma, os cristãos não mãos estão debaixo do mandamento de
Moisés para cultuarem no sábado (Êx 20.8-11), já que, depois da ressurreição,
das aparições e da ascensão (as quais ocorreram todas no domingo), os cristãos cultuam
no domingo em vez de sábado (veja At 20.7; 1Co 16.2).
O culto do Shabbath declarou Paulo, era no AT apenas uma “sombra” da realidade nova que foi
inaugurada por Cristo (Cl 2.16-17). Já que até mesmo os Dez Mandamentos, como
tais, foram expressos dentro de um contexto nacional, judeu, teocrático, então
o NT pode falar corretamente que o que estava “gravado em pedras” foi, “em
Cristo, removido” (2Co 3.7,13-14).
Entretanto, isso não significa que os princípios morais
contidos nos Dez Mandamentos, que refletem a verdadeira natureza de um Deus
imutável, não são mais pertinentes aos crentes nos dias de hoje. De fato, cada
um dos princípios contidos nos Dez Mandamentos é restabelecido num outro contexto no NT, exceto, é
claro, o mandamento para descansar e cultuar no sábado.
Os cristãos hoje não mais se acham debaixo dos Dez
Mandamentos tais como foram dados por Moisés, da mesma forma como não estamos
debaixo dos requisitos da Lei Mosaica de sermos circuncidados (veja At 15; Gl
3) ou de levarmos um cordeiro ao templo em Jerusalém para ser sacrificado. O
fato de estarmos presos a leis morais semelhantes contra o adultério, contra a
mentira, contra o roubo e contra o assassinato não prova que estamos ainda
debaixo dos Dez Mandamentos, assim como o fato de haver leis de trânsito
semelhantes nos diversos estados de um país não implica que um infrator da lei
no estado “A” esteja sujeito à lei do estado “B”.
A verdade é que aquele que violou uma lei no estado “A” não
violou lei alguma do estado “B”, nem muito menos esta sujeito às penalidades
impostas neste estado. Da mesma maneira, embora tanto o AT como o NT se
pronunciem contra o adultério, a punição, no entanto é diferente – a pena
capital no AT (Lv 20.10) e somente a excomunhão da igreja no NT (1Co 5.1-13), com
a esperança de uma reintegração mediante o arrependimento (2Co 2.6-8).
Bibliografia
Enciclopédia: Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e
“Contradições” da Bíblia – Pág 338, 339 – Norman Geisler e Thomas Howe. Editora
Mundo Cristão, S.Paulo.
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