segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Apóstolo Paulo "como comunicador"

  Sem dúvida um dos mais potentes elementos da liderança de Paulo foi sua capacidade de comunicar a verdade divina com poder e de modo convincente. Os lideres mais populares possuem esta capacidade.

  Durante a Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler e Winston Churchill foram às figuras mais destacadas. Os pronunciamentos de Hitler jamais foram dignos de nota, mas ele acertou ao afirmar: “A força que põe em movimento as maiores avalanches de poder na política e na religião tem sido desde o começo dos tempos a magia da palavra”. Seus próprios discursos frenéticos provam seu ponto de vista.

  Por outro lado, Winston Churchill galvanizou o mundo livre, levando-o à ação, tanto por seus discursos medidos, intrépidos, inspiradores em momentos decisivos, como por seus grandes dons políticos e militares.

  Paulo foi essencialmente pregador, um arauto inflamado das Boas Novas. Se a pregação é medida pelos resultados que ela alcança, então Paulo foi pregador por excelência. Ele merece o direito de exortar a Timóteo: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno quer não”, 2 Tm 4.2.

  Mas ele não reivindicou poderes humanos superiores de oratória: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria”, 1Co 2.1. Sua confiança estava no Espírito Santo, e não nas forças da persuasão humana: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder”, 1Co 2.4.

  De acordo com sua flexibilidade mental, seu método de comunicação adaptava-se ao momento.

  Às vezes o método de Paulo era polêmico. Ele satisfazia a razão dos ouvintes apresentando provas indiscutíveis: “Saulo, porém, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo”, At 9.22. Ele não adotava táticas evasivas quando confrontado com um argumento difícil, nem era ele um intelectual que tinha medo de defender suas crenças. Seu púlpito não era castelo de nenhum covarde.

  Sua apresentação da verdade era cuidadosamente arrazoada: “Por isso dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça todos os dias, entre os que se encontravam ali”, At 17.17.

  Seu objetivo não era meramente ganhar a discussão, mas conquistar seus oponentes.

  Ele era persuasivo. Ele não apresentava simplesmente fatos frios com lógica convincente, mas com calorosa súplica. Ele tinha prazer em pedir em vez de mandar ou advertir: “Todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo tantos judeus, como gregos”, At 18.4.

 Ele acreditava num julgamento vindouro; que Deus não era um mero espectador, mas um Deus de juízo que odiava o pecado com ódio implacável e que haveria de eliminá-lo do universo. Essa crença emprestava urgência aos seus apelos. “E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos aos homens”, 2Co 5.11. E nessa arte ele era singularmente bem sucedido: “Durante três meses Paulo freqüentou a sinagoga onde falava ousadamente, dissertando e persuadindo, com respeito ao Reino de Deus”, At 19.8.

  Sua pregação amiúde era didática – adaptava-se as necessidades especiais de seus ouvintes – porque ele era um tempo mestre e pregador. Paulo ministrou dois períodos longos de pregação e ensino – dois anos na escola de Tirano, e dezoito meses em Corinto, At 19.10 e 18.11. Freqüentemente ele adotava o método de pergunta-e-resposta em seus ensinos. Visto que as pessoas precisam de fatos se a sua fé há de ser inteligente, Paulo as instruía com assiduidade nas coisas concernentes a Deus.

 Seu método de ensino era versátil. Nada tinha de estereotipado. Ele adaptava a mensagem ao seu auditório, conforme o atesta o discurso que fez em Atenas. Embora o conteúdo da mensagem fosse constante, ele buscava terreno comum com aqueles aos quais se dirigia, quer se tratasse de congregações judaicas nas sinagogas, quer filósofos gregos na Acrópole, quer multidões pagãs em Listra. Ele sentia-se igualmente à vontade com governadores e autoridades, filósofos e teólogos.

  Quanto ao tom de sua pregação, Paulo não podia ser acusado de falta de sentimentos: ...lembrando-vos de que por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um”, At 20.31. Há algo comovente nas lágrimas varonis: “Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo”, Fp 3.18. Paulo não se envergonhava de suas lágrimas.

Técnica de Comunicação de Paulo

  Alguns consideram o discurso de Paulo na Colina de Marte, registrado em Atos 17.22-34, como seu maior fracasso em comunicação. A interpretação desses é que ao dirigir-se a um auditório ateniense distinto e erudito, em vez de pregar a “Cristo, e esse crucificado”, ele lisonjeou os filósofos, perdendo assim a oportunidade. Em apoio dessa interpretação eles citam 1Corintíos 2.2: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado”, como refletindo a determinação de Paulo de mudar de método.

 Outros, contudo, vêem esse discurso como uma das suas maiores mensagens, e alegam que seu método não poderia ser melhorado. S.M.Zwemmer chamou-o de “uma maravilha de pregação diplomática e poderosa”. F.B.Meyer afirmou que “por sua graça e seqüência intelectual, grandeza de concepção e alcance, impotente marcha de palavras eloqüentes, ele é impar”. Paulo sem dúvida ficou desapontado com a recepção que a maioria deu a sua mensagem; mas quem falhou: Paulo ou os atenienses?

  Qualquer posição que se tome, este discurso provê valiosos discernimentos às técnicas de comunicação de Paulo. Nele o apóstolo exibe sua espantosa versatilidade, fazendo-se “tudo para com todos” – um intelectual para os intelectuais – “com o fim de, por todos os meios, salvar alguns”, 1Co 9.22. Nisto ele foi bem sucedido.

  Analisemos os resultados desse discurso (Atos 17.32-34) que até Alexandre McLaren destacou como “pouco menos do mai nada”: “Alguns escarneceram "– zombaria, desdém e cinismo. Alguns procuraram ganhar tempo – “A respeito disso te ouviremos noutra ocasião” – indecisos, procastinaram. Alguns  creram – “Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram”. Um grupo de homens abraçou a mensagem.

  “Entre eles estava Dionísio, o areopagita”, At 17.34. O Areópago era um colégio de doze juízes que tornaram Atenas famosa. O areopagita corresponderia, em nossos tempos, a um magistrado do Supremo Tribunal Federal. Se um membro do Supremo Tribunal Federal professasse a fé por ouvir a pregação de um dos nossos pregadores, seria esta considerada fracasso? A conversão de Dionísio é um paralelo. Com que freqüência se convertem os mais importantes magistrados? Paulo disse que não muitos sábios foram escolhidos por Deus (1Co 1.26). Diz à tradição que Dionísio veio a ser mais tarde, bispo de Corinto.

  Outra pessoa que se converteu foi Damaris, uma mulher estrangeira e de fina educação. Tem-se sugerido que ela teria ouvido Paulo pregar na sinagoga, e, portanto era temente a Deus. “E com eles outros mais”, é a observação final. Não foi um mal resultado para um discurso dirigido a um grupo de intelectuais mentalmente fartos! Muitos pregadores hoje se dariam por felizes se experimentassem tal fracasso!

  Um ponto que devemos ter em mente ao avaliar a mensagem de Paulo é que ela foi interrompida e ele não teve oportunidade de completá-la; assim, não temos idéia de seu conteúdo total. Nem precisamos concluir que relato condensado de Atos, compreendendo umas duzentas e tantas palavras, foi tudo o que ele disse. O versículo 18 resume o conteúdo de sua mensagem: “Parece pregador de deuses estranhos, pois pregava a Jesus e a ressurreição”.
Todo o pregador cristão tem muito a prender com método de comunicação de Paulo. Convém notar alguns pontos.

  Ele se adaptava ao seu auditório. Dirigindo-se ao povo de Antioquia da Pisídia, ele apelou que inteiramente para as Escrituras do Antigo Testamento com as quais eles estavam familiarizados, At 13.14,15. Falando aos camponeses de Listra, porém, ele expressou os mesmos pensamentos em linguagem diferente. Ele não faz referências ao Antigo Testamento, pois eles o desconheciam, mas apelou para a beneficência de Deus, At 14.15-18. Em Atenas, ao se dirigir aos filósofos gregos, ele estabeleceu certa harmonia citando “poetas gregos”, e apresentou uma filosofia bíblica da própria história grega, acompanhada de uma dissertação sobre a natureza da Divindade.

  Nesta mensagem em particular, Paulo, mostrou grande conhecimento cultural secular, ao destacar como ponto de partida o panteão grego, e em particular, um altar que se destacava sob o título “Ao Deus desconhecido”. Esta mensagem em particular é registrada o modo como o Espírito Santo usou a erudição de Paulo, ao citar vários poetas gregos. Epimênedes, que viveu por volta do ano 600 a.C. Falou sobre o poder de Deus em sua obra Cretica: “nele vivemos, nos movemos e existimos”. O poeta Arato (315 a 240 a.C.), que afirmou em Fenômenos: “somos da sua descendência”.

  Paulo, ainda em outras oportunidades, voltaria a mencionar pensadores gregos, tais como Meandro, citando sua conhecida e apreciada comédia grega Thais: “As más companhias corrompem os bons costumes” (1Co 15.33). E outra citação da mais uma frase de Epimênedes: “Os cretenses são sempre mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos” (Tt 1.12).

  Paulo demonstrava acima de tudo grande conhecimento em cultura secular. Isso é citado claramente na segunda carta a Timóteo: “Quando vieres, traze-me a capa que deixei em Trôade, na casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos” (4.13). Os livros (que era produzidos em papiros) que Paulo se refere certamente trata-se de obras seculares de poetas gregos, os pergaminhos (feito de peles de animais) referem-se às Escrituras Sagradas, todo o VT.

  A flexibilidade mental de Paulo em adaptar de tal modo sua mensagem a diferentes grupos esclarece o que ele pretendia dizer com “Fiz-me tudo para com todos”. A lição para o missionário é que ele use uma linguagem compreensível, especialmente aos líderes ou há outros grupos diferenciados culturalmente.

  O prelúdio conciliatório de Paulo aos eu discurso é um modelo a ser imitado. Com grande tato e cortesia, ele apresentou o assunto elogiando os atenienses pelo óbvio interesse religioso manifestado na proliferação de altares por toda a cidade. Ele não começou criticando seus ídolos. Isso viria mais tarde, depois de estabelecida a concordância. Nem citou referências judaicas com as quais não estavam familiarizados, mas sim obras gregas de seus conhecimentos.

  Também não desceu ao nível dos seus ouvintes orientados pela filosofia, como se o cristianismo fosse apenas outra filosofia, pelo contrário, ele esforçou-se por encontrar um ponto de contato entre a sua mensagem e as crenças então correntes. Visto que ele tinha mira conquistá-los e não vencê-los num debate intelectual, limitou-se a comentar uma das inscrições de um altar que lhe chamou a atenção. Aí estava o ponto de contato! “Ao Deus desconhecido” (veja a história sobre este altar dedicado “Ao Deus desconhecido” neste mesmo Blog) . Com grande coragem, Paulo disse: “Pois esse que adorais sem conhecer, é precisamente aquele que eu vos anuncio”, At 17.23.

  Primeiro ele acentuou os pontos que tinham em comum a fim de prender-lhes a atenção; mas havendo conseguido isto, lançou-se a uma polêmica contra a idolatria. Sua cortesia não o levou a desculpar o erro.

  O Dr.S.M. Zewmmer mostra que embora fosse verdade haver Paulo reconhecido todo o bem que pode encontrar em Atenas, longe de cortejar o orgulho ateniense, ele deitou-lhe o machado. Desafiou-os em cindo pontos:

1)  Eles declaravam terem-se originado do solo. No versículo 24 Paulo afirma que Deus fez o mundo e tudo o que nele existe;

2) Eles apontavam para a Acrópole e sua bela arquitetura. Paulo disse: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe... não habitava em santuários feitos por mãos de humanas”, v 24;

3) Eles julgavam infinitamente superiores aos bárbaros, mas Paulo asseverava: “De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra”, v 26; 

4) Eles se orgulhavam de sua cronologia e antiguidade, mas Paulo sustenta que foi Deus, e não Heródoto que fixou “os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação”, v 26;

5)   A elogiada “Idade Áurea de Péricles” não passava de evidência da ignorância que Deus, graciosamente, não havia levado em conta, v 30;

 Dessa maneira Paulo derrotou os gregos exclusivistas, panteístas, materialistas, e os desafiou a arrepender-se.

  O discurso todo é um modelo para os que buscam apresentar em tais círculos o caminho da fé cristã, e uma advertência aos que, em momentos mal orientados têm visto às opiniões, virtudes na grosseria, e lealdade à verdade num desrespeito, aos pensamentos, às atitudes de pessoas inteligentes que deixam em todos os pontos de segui-los.

  Convém dizer, contudo que o apóstolo Paulo não se limitou a pregar sermões formais. Em seu contato com gente de todas as classes ele, espontaneamente, e, em linguagem coloquial, buscou conduzi-los a Cristo, falando conforme suas perspectivas de vida.

  Que possamos aprender  esta arte de comunicação com o apóstolo Paulo, que cujo objetivo  em comunicar a mensagem de salvação não era meramente vencer, ganhar  um debate, uma discussão, mas sim, conquistar nossos oponentes!



Bibliografia:


Texto de J. Oswaldo Sanders – Revista A Seara, Ano XXXII Nº 275 – Fevereiro de 1988 - , Pág 29-31.

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