
Religião é uma palavra pouco citada na Bíblia, e quando o é,
quase sempre esta no sentido pejorativo!
A palavra grega que define religião é “threskeia”, que significa “o
cuidado no aspecto exterior” (cognato de “threskos”, palavra grega que traduz “religioso”, e no qual, significa “cuidadoso das aparências exteriores do serviço divino”), “adoração superficial ou religiosa”,
sobretudo o “serviço cerimonial da
religião”; essa palavra é usada nas Escrituras Sagradas acerca da “religião” dos judeus (Atos 26.5); da “adoração” de anjos (Colossenses 2.18),
o que eles mesmos repudiam (Apocalipse 22.8,9); na época bíblica, religião
tinha uma definição pejorativa, tratava-se de uma “oficiosa ostentação de humildade em selecionar seres inferiores como
intercessores em vez de apelar diretamente ao trono da graça” (Leia: Atos
4.12; 1Timóteo 2.5,6; Hebreus 4.15,16; Tiago 4.8; referente a adoração a “seres
inferiores”: Atos 3.11-12,16; 10.23-26; 12.21-23; 14.8-18; 15.19-21,28,29;
16.16,22; 19.18-20,23-34; Romanos 1.19-23,25; Apocalipse 22.8,9, etc).
Tiago ao tratar deste assunto propositadamente usa a palavra
para pôr em contraste com o que é irreal e enganoso, e a “pura religião”, a qual consiste em “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações” (Tiago 1.26,27)
e manter-se impoluto do mundo. Ele (Tiago) não esta “afirmando aqui [...] que
estes ofícios sejam a soma total, nem ainda os grandes fundamentos da
verdadeira religião, mas declara que são o corpo, o “threskeia” (grego), do qual a piedade ou o amor de Deus é a alma
inspirativa” (Trench).
Outra palavra grega para definir religião é “deisidaimonia”, que denota
primeiramente “medo dos deuses” ou “superstição” (formado de duas palavras:
“deidõ”, que significa “temer” e “daemõn”, que significa “deidade
pagã”, ou “daimõn” que significa
“demônio”, que entre os gregos
pagãos significava uma deidade inferior, quer boa ou ruim. Resumindo esta
palavra pode definir-se também como “medo
dos demônios” – Atos 17.22; 25.19).
Conclui-se então que os termos gregos “threskos” e “threskeia”,
usados para religião e religioso, referem-se à aparência externa, resumidamente
como práticas religiosas, ou cerimoniais ou regras de uma tradição religiosa.
A Bíblia diferencia muito bem a verdadeira adoração
reverente a Deus, que parte não de uma cerimônia superficial, ou exterior, que
se resumi apenas em “aparências”,
que nada significam para Deus (Mateus 22.16; Marcos 12.14; Lucas 20.21; João
7.24; 1Coríntios 5.12 e Gálatas 2.6; 6.15b).
Encontramos as seguintes palavras que representam o
contrário destas. Estas são:
Substantivos
“Eusebeia”,
formado de duas palavras: “eu”, que
significa “bom”, e “sebomai”, que significa “ser devoto”. Denota a devoção ou
piedade que, caracteriza por uma atitude voltada para Deus, faz o que lhe é
extremamente agradável. Este substantivo e o verbo e advérbio correspondentes
são freqüentes nas Epístolas Pastorais, mas não ocorrem nas epístolas
anteriores de Paulo. O apóstolo Pedro usa o substantivo quatro vezes em sua
segunda epístola (2Pedro 1.3,6,7; 3.11). Em outros lugares, ocorre em Atos
3.12, 1Timóteo 2.2; 3.16; 4.17,8; 6.3,5,6,11; 2Timoteo 3.5; Tito 1.1. Em
1Timóteo 6.3, a “doutrina que é segundo
a piedade”, significa aquilo que é consistente com a “piedade”, em contraste com os falsos ensinos; em Tito 1.1, a “verdade, que é segundo a piedade”, é
aquilo que é produtivo da “piedade”;
em 1Timóteo 3.6, “o mistério da piedade”,
é a “piedade” encarnada e comunicada
através das verdades da fé relativas a Cristo; em 2Pedro 3.11, a palavra está
no plural, significando os atos da “piedade”.
“Theosebeia”,
formado de duas palavras: “theos”
que significa “Deus”, e “sebomai”, que significa “ser devoto”. Significando então “o medo ou reverência de Deus”. É encontrado em 1Timóteo 2.10. Contraste com
o adjetivo “theosebes”, que
significa “temente a Deus”, que
ocorre em João 9.31. na Septuaginta, consulte Gênesis 20.11 e Jó 28.28.
Nota: Quanto ao termo “eulabeia”,
que significa “medo piedoso ou devoto”,
que é encontrado em Hebreus 5.7; 12.28, refere-se a “medo” ou “reverência”.
Adjetivos
“Eusebes”,
cognato de “eusebeia”, denota “piedoso, devoto, religioso”, e indica
reverência manifestada em ações, ocorre em 2Pedro 2.9.
“Eusebõs”, denota
“piamente, religiosamente, devotamente”.
É usado com o verbo “viver” (acerca
do modo de vida), em 2Timóteo 3.12; Tito 2.12.
Assim entendemos que a religiosidade que as Escrituras condenam
não se trata somente da adoração a “seres inferiores”, ou seja, a anjos,
homens, mulheres, animais, imagens ou estátuas, não, tratam-se também das
atitudes frente ao que se crê, com a intenção de estar-se imitando a Deus ao
praticar a piedade para com o próximo!
Tiago escreveu: “De
que adianta meus caros irmãos, alguém proclamar sua fé, se não tem obras? Acaso
essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem necessitados de roupa
e passando privações do alimento de cada dia, e qualquer dentre vós lhes
disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e comei até satisfazer-vos’, porém sem lhe dar
alguma ajuda concreta, de que adianta isso?” (Tiago 2.14-16).
Ainda no latim, encontra-se a palavra “religare” para definir religião, que significa “religar-se a Deus”. Dando a idéia de
que basta ter uma religião, ou crença, que já é suficiente para se “religar a
Deus”.
Ao estudar a etimologia destas palavras, paro para pensar, e
me pergunto:
Quem é o verdadeiro
religioso?
Será que é aquele que professando fé no único e verdadeiro
Deus (que é o bíblico), mas que nada faz para contribuir para com o bem estar
de seu próximo, ou é aquele que, mesmo professando fé, através de cerimônias e
tradições religiosas que as Escrituras condenam, se esforça para auxiliar o
próximo em suas necessidades?”
Ou será que religioso é aquele que ajuda a certos próximos
em suas necessidades, mas que despreza e rejeita a outros, mostrando assim
contrariedade frente ao que professa como fé?
Ainda indago se religioso mesmo é aquele que professa uma
crença, mas sua atitude o contraria, pois só demonstra devassidão,
promiscuidade, indiferença, inveja, ódio e rancor para com seu próximo?
De qualquer forma, pode se concluir que a religiosidade em
si, como estudada acima, esta limitada simplesmente à prática superficial,
cerimonial, ou mesmo na real intenção, de cada um, que nada consegue ver além,
a não ser o próprio bem estar!
No Evangelho segundo Lucas, referindo-se a essa
“religiosidade”, está escrito:
“Certa vez, um advogado da Lei levantou-se com o propósito
de submeter Jesus à prova e lhe indagou: “Mestre, o que preciso fazer para
herdar a vida eterna?” Ao que Jesus lhe propôs: “O que esta escrito na Lei?
Como tu a interpretas?”
E ele replicou: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o seu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e com toda a tua
capacidade intelectual e amarás o teu próximo como a ti mesmo!”
Então, Jesus lhe afirmou: “Respondeste corretamente: faze
isto é viverás”.
Ele, no entanto, insistindo em justificar-se, questionou a
Jesus: “Mas, quem é o meu próximo?”
Diante do que Jesus lhe respondeu assim: “Certo homem descia
de Jerusalém para Jericó, quando veio a cair nas mãos de alguns assaltantes, os
quais, depois de lhe roubarem tudo e o espancarem, fugiram, abandonando-o quase
morto, coincidentemente, descia um sacerdote pela mesma estrada.
Assim que viu
o homem, passou pelo outro lado. Do mesmo modo agiu um levita; quando chegou ao
lugar, observando aquele homem, passou de largo.
Mas um samaritano, estando de
viagem chegou onde se encontrava o homem e, assim que o viu, teve misericórdia
dele. Então, aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e
óleo. Em seguida, colocou-o sobre seu próprio animal, levou-o para uma
hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e
lhe recomendou: “Cuida deste homem, e, se alguma despesa tiver-des a mais, eu
reembolsarei a ti quando voltar”.
Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que
caiu nas mãos dos assaltantes?
Declarou o advogado da Lei: “O que teve misericórdia para
com ele!”
Ao que Jesus lhe exortou: “Vai e procede tu de maneira
semelhante!” Lucas 10.25-37 (Versão King James).
As obras realizadas fora da fé em Jesus Cristo nos
Evangélios são consideradas mortas (Efésios 2.8-10), pois, a salvação é
totalmente pela graça (Tito 2.11-15), dada imerecidamente ao homem pecador, sem
nada lhe cobrar. Mas aquele que professa fé no Senhor Jesus tem a obrigação de
não se portar como um mero “religioso” praticando apenas cerimônias
superficiais apoiadas na aparência exterior, mas, sim, nas obras de
misericórdia para com nossos irmãos em suas necessidades e dificuldades
cotidianas!
Religião se resume praticamente nisso: “No esforço em ostentar
uma aparência, através de tradições, cerimônias de falsa humildade, sem, no
entanto, se compadecer da miséria do próximo!”
Oro para que Deus venha nos direcionar na verdadeira
adoração à Sua pessoa, não só através de cultos, cerimônias e tradições, mas
sim, através de um relacionamento com Ele, assim como na demonstração de amor
para com nossos próximos como também em atitudes que testemunhem nossa crença,
em não nos tornemos assim “meros
religiosos”!
Bibliografia: Dicionário Aurélio; Dicionário VINE;
Por Elton S Pereira
Muito bom.Muito esclarecedor. Estudando as palavras do grego do N.T nós vemos como a igreja moderna é religiosa ou seja; ligada em rituais, cerimônias e roupas em detrimento da verdadeira fé
ResponderExcluirbíblica.
Muito bom estudo, claro e bem específico.
ResponderExcluirCristo nos chama para amar, simples assim.
Deus te abençoe com graça e sabedoria sempre.
Cristo vive!!!