segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“O cego filho de Timeu” - Estudo Exegético


O nome “Bartimeu”

Bartimeu é na verdade uma junção de uma palavra grega e um nome. A palavra grega “Ben” (traduzida como “Bar”), significa “filho” ou “filho de”, indicando a paternidade de Timeu. É um estranho nome híbrido semita-grego com uma tradução explícita "filho de Timeu". 

Nos primeiros séculos da Igreja primitiva alguns estudiosos gnósticos viam nisto uma confirmação de que se tratava apenas de uma figura histórica, não real, mas, com um significado especial nesta história por ser, hipoteticamente, uma referência figurativa à obra "Timeu", de Platão, que traz os principais discursos cosmológicos e teológicos do filósofo e que trata da "visão" como origem de todo o conhecimento.



As Supostas Contradições


Há dois problemas contextuais nas passagens dos evangelhos sinóticos que destacam duas prováveis contradições, vejamos:

- O evangelho de Mateus relata que Jesus se encontrou com o cego filho de Timeu, quando entrava em Jericó, enquanto Marcos e Lucas relatam que O mesmo estava saindo no momento do encontro; 

- O evangelho de Mateus declara que eram dois cegos, enquanto Marcos e Lucas declaram serem apenas um;


O cego foi curado por Jesus quando Este entrava ou saía de Jericó?

Problema: De acordo com Lucas, um cego foi curado quando Jesus entrava na cidade de Jericó (18.35), porém Mateus e Marcos declaram que a cura aconteceu quando Jesus deixava a cidade de Jericó. Entre estes três evangelhos sinóticos encontra este detalha que parece ser uma contradição, dando a entender que não estão em acordo.

Solução: alguns creem que, segundo Lucas, a cura na verdade aconteceu quando Jesus saía de Jericó, dizendo que foi apenas o primeiro contato que se deu “ao aproximar-se Ele de Jericó” (Lc 18.35), e que o cego deve tê-Lo seguido por toda a cidade clamando, já que ele não parava de clamar a Jesus que o curasse (VV. 38-39). Mas isso parece ser improvável, já que o versículo seguinte (19.1), logo depois da cura, diz: “entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade”.

Outros estudiosos respondem a essa questão observando que havia “duas Jericós”, a velha e a nova, de forma que Jesus saiu de por uma e entrou pela outra.

Ainda que outros sugerem que se trata de dois eventos distintos. Mateus e Marcos afirmam claramente que a cura ocorreu quando Jesus deixou a cidade (Mt 20.29; Mc 10.46). Lucas, porém, fala de Jesus ter curado um cego quando entrava na cidade. A base disso é o fato de que Lucas refere-se apenas a uma “multidão” de pessoas com Jesus, ao entrarem na cidade (18.36), mas tanto Mateus (20.29) como Marcos (10.46) destacam o ponto de que a multidão era, respectivamente “grande” e “numerosa”, quando Jesus saiu da cidade.

Se a notícia da cura milagrosa feita na entrada da cidade tivesse se espalhado por toda a Jericó, explicaria o aumento do número de pessoas da multidão e por que dois cegos permaneciam do outro lado da cidade, esperando o momento de pleitear com Jesus (Mt 9.27-31). É possível que o primeiro cego curado tenha ido depressa contar a seus amigos, também cegos, o que lhe acontecera. Ou quem sabe os outros dois cegos já estivessem postados do outro lado da cidade, mendigando no seu lugar costumeiro, pois era muito comum naquela época, pessoas necessitadas pedirem esmolas aos transeuntes na estrada.

Eram dois cegos ou apenas um?

Problema: Mateus relata que Cristo curou dois homens cegos (Mt 20.30), mas Marcos e Lucas referem-se à cura de um homem cego (Mc 10.46; Lc 18.35), parecendo ser uma contradição.

Solução: Embora Marcos e Lucas registrem a somente uma pessoa fora curada, não significa que não foram curados os dois cegos, como Mateus mesmo relata. Antes de mais nada, Marcos e Lucas não declaram que “apenas” um cego foi curado. Pois, Mateus registra que foram dois. Mateus também menciona dois endemoniados enquanto Marcos e Lucas anteriormente mencionaram apenas um (Mt 8.28-34). Nesse relato também Mateus menciona dois cegos não se concentrando em apenas um como os demais evangelhos sinóticos.

Este fato não mostra qualquer contradição, pois, provavelmente Marcos e Lucas referem-se somente ao “filho de Timeu”, por este ser mais conhecido, tantos pelos autores, como também pelos transeuntes que passavam pela estrada que cruzava as duas Jericós. Por isso citaram o nome de seu pai Timeu, indicando que o cego era seu filho!

Acredita-se também que Marcos e Lucas concentraram-se apenas no “filho de Timeu”, por este ter se destacado em seu clamor, devido a sua insistência em clamar por Jesus, em meio a uma multidão certamente barulhenta!

As Duas Jericós

Nos tempos de Jesus, havia duas cidades de Jericós, uma referente à Jericó do A.T., a qual estava quase que inteiramente abandonada, e uma nova Jericó, citada no N.T., edificada por Herodes o Grande, ao Sul da antiga Jericó.

Fora construída uma nova Jericó próximo da antiga devido ao temor referente à profecia de maldição, proferida por Josué: “E naquele tempo Josué os esconjurou, dizendo: Maldito diante do SENHOR seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; sobre seu primogênito a fundará, e sobre o seu filho mais novo lhe porá as porta.” (Js 6.24), a respeito da reconstrução da “antiga” Jericó, o qual, se cumpriu quase 600 anos depois no reinado de Acabe, onde Hiel, de Betel, na tentativa de reconstruir a “antiga” Jericó, perdeu seu filho primogênito, Abirão, ao fundar a cidade, e seu filho caçula, Segube, ao por portas na cidade: “Em seus dias Hiel, o betelita, edificou a Jericó; em Abirão, seu primogênito, a fundou, e em Segube, seu filho menor, pôs as suas portas; conforme a palavra do SENHOR, que falara pelo ministério de Josué, filho de Num.” (1Rs 16.34).

A antiga Jericó é localizada à 8 Km a Oeste do Jordão e aproximadamente 24 Km a Nordeste de Jerusalém.  A nova Jericó situava-se a pouco menos de 5 Km da antiga Jericó.

O Título Messiânico “Filho de Davi”

Leitura: Mt 22.41; Mc 12.35; Jo 7.42; 2Sm 7.12,13; Sl 89.3,4; Am 9.11; Mt 12.23; 21.15,16.

Filho de Davi, um título messiânico. Assim, ao gritar, Bar-Timai estava identificando Jesus como o Messias. O Messias, palavra grega aqui é “Christos”, que tem o mesmo significado da palavra hebraica “mashiach”, a saber, “ungido”, ou “aquele sobre o qual foi derramado”. O significado de ser reconhecido como “O Ungido” é que tanto os reis quanto os Sacerdotes eram investidos de sua autoridade numa cerimônia de unção com óleo de oliva. Assim, inerente ao conceito de “Messias” é a idéia de receber autoridade sacerdotal e real da parte de Deus.

A palavra grega “Christos” é usualmente traduzida para o português como “Cristo”. Em dois versículos do Novo Testamento (Mt 1.41; 4.25) o texto grego era “Messias”, obviamente como no português “Messias”, uma transliteração da palavra hebraica.

A diferenciação da citação das palavras “Messias” e “Cristo” se dá no âmbito social religioso, definindo a classe de pessoas que o texto pretende alcançar. Messias tem um significado de Salvador, Libertador na religião judaica, em sua cultura e tradição. Enquanto a palavra Cristo tem um tom estrangeiro e uma conotação negativa devido a perseguição sofrida pelos judeus por parte daqueles que alegavam ser seus seguidores. Além disso, a utilização da palavra “Messias” em mais de 380 vezes no texto é uma lembrança contínua de que o Novo Testamento alega que Jesus fez simplesmente tudo o que deveria ter sido foi feito pelo tão esperado “Messias” que o povo judeu aguardava. A palavra “Cristo” em português não aponta o cumprimento por Jesus das esperanças judaicas e da profecia bíblica.

Filho de. A palavra hebraica “ben” (“filho”, “filho de”) é continuamente usada em três diferentes modos na Bíblia e no judaísmo:

- Tanto na Bíblia quanto no judaísmo, um homem é normalmente identificado como um filho de seu pai. Por exemplo, se o filho de Sam Levine, Joe, é chamado para ler um rolo da Torá na sinagoga, ele será anunciado não como Joseph Levine, mas como “Yosef ben Shmu’el” (Joseph, filho de Samuel); 

- “Ben” também pode significar não o filho de fato, mas um descendente mais distante, como era o caso onde se mostra na genealogia que Davi e Abraão eram ancestrais distantes de Jesus;

- “Ben” pode ser utilizado mais amplamente para significar “tendo as características de”, e isso também se aplica a Jesus onde se mostra que tinha as qualidades encontradas tanto em Abraão como também no rei Davi.

Filho de Davi. Esse termo é na verdade, um dos títulos do Messias, tendo como base as profecias do Tanakh de que o Messias seria um descendente de Davi e se sentaria no trono de Davi para sempre (para referências veja Atos 13.23). Enquanto “Filho de Davi” não aparece como um título messiânico no Tanakh e é visto pela primeira vez como tal na pseudoepígrafe Salmos de Salomão 17.23, 36, escrito no século I. O Novo Testamento registra o uso desse termo de quinze a vinte vezes, e ele tem sido continuamente utilizado no judaísmo até os dias de hoje. 


Bibliografia

Bíblia Sagrada, versão King James e Tradução Revista e Corrigida, João Ferreira de Almeida; 
Comentário Judaico do Novo Testamento, David Stern;
Comentário Bíblico “Vida Cristã”, O Evangelho Segundo Lucas, Anthony Lee Ash;
Enciclopédia – Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições da Bíblia”, Norman Geisler & Thomas Howe;
Perguntas Difíceis de Responder, Elias Soares; 
Lendas do Céu e da Terra, O Cego Bartimeu, Malba Tahan.

12 comentários:

  1. Bom estudo .ótimo demais ...mais timeu era um general?

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  2. Porq a pergunta se timeu era um general?

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    1. Tmeu era um general ou euqivalente durante uma rebelião contra a cobranca de impostos por Roma. Assim Timeu foi morto pelo exército romano e seu filho tendo os olhos perfurados cegando, para deixar a marca para ninguém tentar se insurgir novamente contra Roma.

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    2. Por favor site a fonte.

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  3. Esse não o do.livro histórias dos hebreus sim

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  4. Gostei muito!
    Só uma pergunta era Roma antiga ou os da igreja católica que se diz Romana

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  5. Excelente estudo muito edificante pra nossa vida amém

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  6. Algumas coisas se contradizem

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